domingo, 27 de abril de 2008

virada :: passagens

Nesta virada cultural ficamos 2 horas na fila para o Teatro da Vertigem/Zikzira e LOT A última palavra é a penúltima , intervenção cênica apartir de "O esgotado" de Gilles Deleuze(texto que trata da linguagem de Beckett, em especial para as peças televisivas).Enfim, motivos para estar lá não faltam.Mas não o vimos, por problemas de hiper-lotação nas 3 sessões. Apenas as câmeras postas numa pasarela do Viaduto do Chá nos mostravam imagens do que se passava no subsolo. Podíamos participar, passando na passarela brevemente, entre as figuras que apenas e, também como nós, iam e vinham. Algumas mascaradas. Quando fui, uma menina segurou minha mão com força, pedira que entrasse com ela, era um túnel escuro, havia um som-ambiente, e estávamos sendo vistos por pessoas dentro de "janelas" prateadas, vitrines que não deixavam ver o lado de dentro. Nós, que antes víamos, estávamos ali, sendo vistos, por espectadores invisíveis.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

cidade foto grafias*

uma cidade é a proposição efêmera de um território fragmentado pela acumulação
desigual de tempos...

mutante no tempo e no espaço, a cidade desafia quem tenta apreendê-la e entendê-la como um corpo único..

toda cidade é composta em parte pela sua concretude e parte pelo imaginário que desperta em cada habitante(.)
logo, as cidades só podem existir enquanto narrativa.



*textos de eder chiodetto do pequeno e bonito catálogo de tuca vieira, fotografia de rua**, que dialoga com o trabalho uma amiga.)

** no MARIANTÔNIA,o dia todo, todos os dias, até ...

domingo, 13 de abril de 2008

tempestade para papagaios




Na verdade, a peça se chama "Vento forte para um papagaio subir". E foi escrita em 1958, pelo então estudante José Celso Martinez Corrêa, ainda aspirante a poeta. Era seu primeiro texto; 50 anos depois Zé Celso, diretor artístico e performer chave do Teatro Oficina, põe-se a remontá-lo. Mas agora, aos 70 e a todo vapor, pode em cena assistir (-se) o alter ego João Inácio, que já foi interpretado por José Serra, na primeira montagem!...em seu dilema sobre ficar ou não, em sua cidade natal, Araraquara.

Do blog deles, teatroficina.blog.uol.com.br:

... junto com as peças "A Engrenagem" e "A Incubadeira", compõem o que o diretor chama de uma "dramaturgia do rompimento”. Se na obra "A Engrenagem" (1960), traduzida e adaptada por Zé Celso e Augusto Boal para comemorar a presença do filósofo Jean-Paul Sartre (autor do texto) no país, o tema é o rompimento com o capital, em "A Incubadeira" (1959), seu segundo texto dramatúrgico, o diretor rompe com a família. Já em “Vento Forte....” temos o rompimento com a cidade natal. Na peça, o vento forte é uma tempestade que destrói tudo, levando a personagem a abandonar a cidade.

Vídeos, sobreposições de imagens e texturas, intervenções de luz e som, espaço cênico de passarela, desfiles & cortejos. Piano incidental e acidental. Carnaval em cena!: mas isso tudo já é sabido sobre o Oficina e sobre o Zé Celso.

O que "não sabemos", eu mesmo não sabia até bem pouco, é sobre sua dimensão, algo a ser repetido aqui:
não há experiência tão sadia e rigorosamente esculpida no tempo. seu estilo único é resultado de uma radical con-vivência entre tantos e tão diferentes artistas. E digo isso porque, ao assistir um ensaio d´Os Sertões, me deparei com um algébrico Zé Celso e seu caderninho de notas. Não um tirano, mas atento diretor. Algo que para mim, quebrou de início uma imagem persistente na mídia que o enquadra como um Dioniso "puro". Aquilo é bem calculado.
Com nuances. Vento forte, seu sopro vem de longe no tempo e se propaga aos longes do espaço, por exemplo:

Antes de entrar, conversei com uma moça que vendia vinho e quitutes, como o pau integral (é ver pra comer), se bem me lembro. Me disse que tinha visto o Oficina na capa da Theater Heute, a prestigiada revista alemã de teatro, de Maio de 2004, leu a matéria, pensou "É para lá que eu vou" e desde então está no Brasil. Insisto: "mas como você aprendeu português tão bem e tão rápido?" , resposta: Euclides da Cunha. Digo a ela, só para ter o que falar talvez, que conheço um pouco do teatro alemão (Frank Castorf eteve aqui em 2006)e que acho que o Zé é o mais próximo que temos a ele. Ao que ela me contrapõe (felizmente): "Castorf?, ele tem um trabalho mais racional, de texto , de mesa. De destrichar o texto. Aqui se trabalha com o que surge do corpo, com o que o ator encontra."