domingo, 13 de abril de 2008

tempestade para papagaios




Na verdade, a peça se chama "Vento forte para um papagaio subir". E foi escrita em 1958, pelo então estudante José Celso Martinez Corrêa, ainda aspirante a poeta. Era seu primeiro texto; 50 anos depois Zé Celso, diretor artístico e performer chave do Teatro Oficina, põe-se a remontá-lo. Mas agora, aos 70 e a todo vapor, pode em cena assistir (-se) o alter ego João Inácio, que já foi interpretado por José Serra, na primeira montagem!...em seu dilema sobre ficar ou não, em sua cidade natal, Araraquara.

Do blog deles, teatroficina.blog.uol.com.br:

... junto com as peças "A Engrenagem" e "A Incubadeira", compõem o que o diretor chama de uma "dramaturgia do rompimento”. Se na obra "A Engrenagem" (1960), traduzida e adaptada por Zé Celso e Augusto Boal para comemorar a presença do filósofo Jean-Paul Sartre (autor do texto) no país, o tema é o rompimento com o capital, em "A Incubadeira" (1959), seu segundo texto dramatúrgico, o diretor rompe com a família. Já em “Vento Forte....” temos o rompimento com a cidade natal. Na peça, o vento forte é uma tempestade que destrói tudo, levando a personagem a abandonar a cidade.

Vídeos, sobreposições de imagens e texturas, intervenções de luz e som, espaço cênico de passarela, desfiles & cortejos. Piano incidental e acidental. Carnaval em cena!: mas isso tudo já é sabido sobre o Oficina e sobre o Zé Celso.

O que "não sabemos", eu mesmo não sabia até bem pouco, é sobre sua dimensão, algo a ser repetido aqui:
não há experiência tão sadia e rigorosamente esculpida no tempo. seu estilo único é resultado de uma radical con-vivência entre tantos e tão diferentes artistas. E digo isso porque, ao assistir um ensaio d´Os Sertões, me deparei com um algébrico Zé Celso e seu caderninho de notas. Não um tirano, mas atento diretor. Algo que para mim, quebrou de início uma imagem persistente na mídia que o enquadra como um Dioniso "puro". Aquilo é bem calculado.
Com nuances. Vento forte, seu sopro vem de longe no tempo e se propaga aos longes do espaço, por exemplo:

Antes de entrar, conversei com uma moça que vendia vinho e quitutes, como o pau integral (é ver pra comer), se bem me lembro. Me disse que tinha visto o Oficina na capa da Theater Heute, a prestigiada revista alemã de teatro, de Maio de 2004, leu a matéria, pensou "É para lá que eu vou" e desde então está no Brasil. Insisto: "mas como você aprendeu português tão bem e tão rápido?" , resposta: Euclides da Cunha. Digo a ela, só para ter o que falar talvez, que conheço um pouco do teatro alemão (Frank Castorf eteve aqui em 2006)e que acho que o Zé é o mais próximo que temos a ele. Ao que ela me contrapõe (felizmente): "Castorf?, ele tem um trabalho mais racional, de texto , de mesa. De destrichar o texto. Aqui se trabalha com o que surge do corpo, com o que o ator encontra."

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