domingo, 14 de setembro de 2008

La Elke

Na última sexta, o tempo em sampa já dava sinais de câmbio, como dizem os espanhóis
e como pela manhã me havia dito meu dermatologista. O tempo variável de sampa, sua flutuação constante, tal qual a dos mercados que regem - em especial - a lógica que a estrutura, me fazem hoje escrever contra um frio de 15 graus.

Fomos ver um show da Elke Maravilha, uma "diva" de quem sei muito pouco, mas que
pude conhecer em duas horas de músicas populares infantis, bregas (by falcão e cia.),
russas, gregas e poesias de drummond, kaváfis,e citaçãoes indiretas aos "espíritos
livres" de nietzsche... Explica-se: era uma performance auto-biográfica, e nela apareciam as cidades que ela conheceu, viveu e não esqueceu. Nasceu na Rússia, veio pra Itabira(MG) com 6 anos e dizem que mora no Rio hoje em dia. Trabalhou como chacrete, modelo, já foi marca de esmalte e jurada no programa Sílvio Santos.

La Elke é uma dama da noite, uma dândi do preto ou do branco e de perucas descoloridas!
Quem nunca a viu em suas extravagâncias e dissonências como uma boneca de luxo?
No show, entretanto, o teor de grandiosidade dá lugar a uma conversa em tom
íntimo, um número às avessas, uma pequena caixinha de surpresas, e a desfiguração de nossa personagem que pode ser vista como não mais uma imagem retocada e
esdrúxula, mas como uma notável mulher, sensível.Longe por demais, de toda
e qualquer perfeição de representação.

sábado, 24 de maio de 2008

o que será?

O que será aquele monturo de fragmentos de tecido, madeira e e.v.a que está instalado na av. paulista, passagem mais visada da parada de orgulho gay que acontece em sampa, neste fim de semana (24 e 25 de Maio)?

Passando de ônibus ou à pé pelo lugar ela é visível e intrigante.
Como as cores são um róseo bebê e padrões malhados, acredito que seja uma evocação a uma vaca. Sim, a vaca da cow parade. Há pouco no Rio e que passou por SP em 2004 ou 2005.

Um decalque, uma re-leitura, uma crítica à nossa parada, ao nosso mardi-gras para além de toda política, mas em tudo político. Gosto da denúncia, da violência da figura que nunca poderia formar uma imagem de vaca, porque tudo está arremendado em sua estrutura de madeira. Escultura capenga.

Em todo caso, neste domingo de parada,será difícil ficar em casa...

domingo, 27 de abril de 2008

virada :: passagens

Nesta virada cultural ficamos 2 horas na fila para o Teatro da Vertigem/Zikzira e LOT A última palavra é a penúltima , intervenção cênica apartir de "O esgotado" de Gilles Deleuze(texto que trata da linguagem de Beckett, em especial para as peças televisivas).Enfim, motivos para estar lá não faltam.Mas não o vimos, por problemas de hiper-lotação nas 3 sessões. Apenas as câmeras postas numa pasarela do Viaduto do Chá nos mostravam imagens do que se passava no subsolo. Podíamos participar, passando na passarela brevemente, entre as figuras que apenas e, também como nós, iam e vinham. Algumas mascaradas. Quando fui, uma menina segurou minha mão com força, pedira que entrasse com ela, era um túnel escuro, havia um som-ambiente, e estávamos sendo vistos por pessoas dentro de "janelas" prateadas, vitrines que não deixavam ver o lado de dentro. Nós, que antes víamos, estávamos ali, sendo vistos, por espectadores invisíveis.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

cidade foto grafias*

uma cidade é a proposição efêmera de um território fragmentado pela acumulação
desigual de tempos...

mutante no tempo e no espaço, a cidade desafia quem tenta apreendê-la e entendê-la como um corpo único..

toda cidade é composta em parte pela sua concretude e parte pelo imaginário que desperta em cada habitante(.)
logo, as cidades só podem existir enquanto narrativa.



*textos de eder chiodetto do pequeno e bonito catálogo de tuca vieira, fotografia de rua**, que dialoga com o trabalho uma amiga.)

** no MARIANTÔNIA,o dia todo, todos os dias, até ...

domingo, 13 de abril de 2008

tempestade para papagaios




Na verdade, a peça se chama "Vento forte para um papagaio subir". E foi escrita em 1958, pelo então estudante José Celso Martinez Corrêa, ainda aspirante a poeta. Era seu primeiro texto; 50 anos depois Zé Celso, diretor artístico e performer chave do Teatro Oficina, põe-se a remontá-lo. Mas agora, aos 70 e a todo vapor, pode em cena assistir (-se) o alter ego João Inácio, que já foi interpretado por José Serra, na primeira montagem!...em seu dilema sobre ficar ou não, em sua cidade natal, Araraquara.

Do blog deles, teatroficina.blog.uol.com.br:

... junto com as peças "A Engrenagem" e "A Incubadeira", compõem o que o diretor chama de uma "dramaturgia do rompimento”. Se na obra "A Engrenagem" (1960), traduzida e adaptada por Zé Celso e Augusto Boal para comemorar a presença do filósofo Jean-Paul Sartre (autor do texto) no país, o tema é o rompimento com o capital, em "A Incubadeira" (1959), seu segundo texto dramatúrgico, o diretor rompe com a família. Já em “Vento Forte....” temos o rompimento com a cidade natal. Na peça, o vento forte é uma tempestade que destrói tudo, levando a personagem a abandonar a cidade.

Vídeos, sobreposições de imagens e texturas, intervenções de luz e som, espaço cênico de passarela, desfiles & cortejos. Piano incidental e acidental. Carnaval em cena!: mas isso tudo já é sabido sobre o Oficina e sobre o Zé Celso.

O que "não sabemos", eu mesmo não sabia até bem pouco, é sobre sua dimensão, algo a ser repetido aqui:
não há experiência tão sadia e rigorosamente esculpida no tempo. seu estilo único é resultado de uma radical con-vivência entre tantos e tão diferentes artistas. E digo isso porque, ao assistir um ensaio d´Os Sertões, me deparei com um algébrico Zé Celso e seu caderninho de notas. Não um tirano, mas atento diretor. Algo que para mim, quebrou de início uma imagem persistente na mídia que o enquadra como um Dioniso "puro". Aquilo é bem calculado.
Com nuances. Vento forte, seu sopro vem de longe no tempo e se propaga aos longes do espaço, por exemplo:

Antes de entrar, conversei com uma moça que vendia vinho e quitutes, como o pau integral (é ver pra comer), se bem me lembro. Me disse que tinha visto o Oficina na capa da Theater Heute, a prestigiada revista alemã de teatro, de Maio de 2004, leu a matéria, pensou "É para lá que eu vou" e desde então está no Brasil. Insisto: "mas como você aprendeu português tão bem e tão rápido?" , resposta: Euclides da Cunha. Digo a ela, só para ter o que falar talvez, que conheço um pouco do teatro alemão (Frank Castorf eteve aqui em 2006)e que acho que o Zé é o mais próximo que temos a ele. Ao que ela me contrapõe (felizmente): "Castorf?, ele tem um trabalho mais racional, de texto , de mesa. De destrichar o texto. Aqui se trabalha com o que surge do corpo, com o que o ator encontra."

domingo, 30 de março de 2008

o passado: livro- filme




As referências no livro ao cinema são diversas e, por vezes díspares: de Zorba, o grego a Rocco e seus irmãos, ou 2001- uma odisséia no espaço , passando por (e a edição brasileira da cosac naify se vale disso no projeto gráfico luxuoso, com frames de filmes citados no romance e outros)L´Histore d'Adèle H.,filme este que desconheço, mas que me pareceu bem importante pra configuração do romance e da relação difícil entre Rímini e Sofía.

O que me interessou neste livro foi sua imagética, sem dúvida, sua linguagem minunciosa e ao mesmo tempo caudalosa ("rigorosa e lúdica, que lembra um Proust que tivesse lido Cortázar" como escreve Reinaldo Morales na contracapa da edição brasileira), fiquei pensando na amnésia e na anestesia generalizada de Rímini ou na obstinada paixão de Sofía , de início, em termos estéticos. Não é pra menos, pois em tudo eles parecem objetos de arte como fetiche e decoração, mas nada kistch, sendo como os quadros de Riltse (o "pintor conceitual" do livro), cultuados como perfeitos. Rímini , na minha leitura inicial, estaria como que num pólo apolíneo e no dionisíaco, Sofía.

Sem continuar nesse ou outros enquadramantos, acabei me deixando conduzir ao longo de 6 meses, com interrupções e desistências, para finalmente hoje terminar a leitura como quem saboreia algo cujo gosto é forte e indefinível.Na verdade, múltiplo porque
são vários os romances, várias formas de narrar e compor uma história sem desistir do jogo e de tudo isso fico com as meta-imagens como chave de toda essa apatia versus histeria dos dois amantes.

As nádegas brancas de Ida expostas à rua em pleno entardecer,"extemporâneas como uma poltrona ou uma lâmpada de pé no meio do campo". A morte de Frida, quando ela prenuncia o tema do (des-)sangramento("sangrar o justo no momento justo: esse é o segredo da imortalidade").Rímini contemplando uma xícara por quase ou mais de 10 horas .A boca de Sofía multiplicada pela escuridão e o corpo de Vera se projetando "no ar, descrevendo o mesmo giro que um momento antes vira nos papéis sacudidos pelo vento". A epígrafre, "Já faz tempo que me acostumei a estar morta", repetida pela Sra. Sanz, ao telefone, quase quinhnentas páginas depois...

E o filme de Babenco se apodera de alguns desses momentos, enfocando sua trama nas (des)venturas amorosas. Para ele o filme, que pode remeter a Kieslowski , é dirigido ao público de Woody Allen e Almodóvar e lança uma provocação, " A separação também pode fazer parte de uma história de amor". A opção de Babenco, ao meu ver, é discutir um assunto ou eixo principal em detrimento da forma do romance, deixando de lado o fato de que a presença da narração do cinema é algo tão onipresente neste livro (e em nossas vidas), que sua problematização em se tratando da adaptação para o prório cinema poderia levar à denúncia desta onipresença ou dialogar com isso por modos de representação vários. Sua opção de aparecer no cartaz da última Mostra de cinema de São Paulo, é uma provocação ao olhar do espectador e ao que acabo de dizer, pois ele está lá como alguém que vende jóias no centro da cidade. Comércio alternativo de produto fino, pelo decalque?
Talvez a cena de Gael García Bernal traduzindo um filme B em inglês pode apontar
para uma pequena cintilação das razões de sua amnésia, .... Mas ficamos com o melodrama, e com a sensação de que a leitura de Babenco é mais apaixonada, propõe um desfecho mais ambíguo, menos pessimista e, em todo caso, mais lírico que o do livro de Alan Pauls.

Creio que O Passado pode gerar uma leitura cinematográfica mais aparentada ao universo criativo de David Lynch, por exemplo. No sonho que fecha a "torrente contínua" do livro, em que Rímini , deitado ao lado de Sofía, depois de ter se deparado com a velhice nonsense de suas fotos e de perceber em ambos os seus sexos sangue, é possível imaginar uma seqüência próxima com as de Cidade dos Sonhos:

"Viu seus dois pés descalços pisando um tapete de grama artificial que cercava uma piscina no último andar de um edifício castigado pelo sol. Quando acordou, uma luz fraca entrava pela persiana. Nenhuma mudança. Continuavam dessangrando-se."

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

metamomento 01

o olhar de espectador no carnaval,
em meio à profusão o samba frevo ou cavalo marinho ou a multidão.

caído num canto, seu objeto seu óculos seu si mesmo.
entre vários carnavais mediatizados, um som de mar,
reinício. cinzas.

este blog.

domingo, 13 de janeiro de 2008

n. y., n. y.

agora pouco, um amigo me contou sua percepção sobre uma performance num restaurante, em que usava headphones com indicações de como agir e como se dava o contato com seu companheiro, meu amigo "fazia" uma prostituta e o outro, um filósofo.
o interessante é que cada participante não sabia o que seria dito, o que iria fazer.
com suas palavras:

tem uma hora que eu (puta) recebo instruções para fechar os olhos e deitar a cabeça sobre a mesa (o bar lotado em volta) e há um breve relaxamento, e enfim eu imaginando uma montanha estico a mão com a palma pra cima, de repente de ohos fechados, sinto umas gotas d'água caindo sobre a palma da minha mão: o outro tá recebendo informações complementares, mas totalmente diferentes

gostaria de saber mais, mas fico imaginando a necessidade por outras formas de relação que buscamos, e essa performance toca num ponto comum ao les ephemères, do theâtre du soleil

seria bonito buscar o sentido dessa necessidade, vendo-a na performance de meu amigo,mas a mera descrição via msn já me coloca diante de uma outra maneira de ouvir falar, e tb de representar essa necessidade.

...

uma maneira que exclui o drama?
ou que abre-o, para outras estruturas e tramas?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

o livro das revelações


o filme de Ana Kokkinos me chamou atenção sobre uma coisa

(quando o bailarino é amarrado no chão por mulheres que lembram freiras de uma ordem religiosa secreta, e que são interpretadas pelas mesma atrizes (supomos) que são integrantes da cia. de dança em que ele trabalha)

a dança como um lugar de beleza dos corpos, beleza renascentista, que se esgueira (viva, mas com o câncer da coreógrafa no filme) na dança-teatro que se maqueia de Pina Bausch ou de cirque du soleil, só declara a doença dos olhares voyeurísticos para os todos os virtuosismos na arte.

"Entre a filosofia e a psicanálise, o voyeurismo seria o gozo de ver como absoluto que nos leva a pensar o olho como órgão mais do que cognitivo...O olho ocupa o lugar do sexo, que ocupou o lugar de Deus, que ocupava o lugar do absoluto, esta necessidade humana entre a paranóia e a utopia." (Márcia Tiburi, O que o olho não vê, Cult 120)
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